Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 estão sendo acompanhados por milhares de horas de cobertura, atingindo uma audiência global superior a 3 bilhões de pessoas. Nessa edição, o custo de transmissão cobrado pelos organizadores do evento foi de US$ 3,3 bilhões, uma parte significativa da receita dos jogos. Porém, estamos vendo acontecer um fenômeno muito importante: a TV segue sendo o principal meio de comunicação para acompanhar as competições, seja no Brasil ou no mundo, porém, a internet está incomodando cada vez mais.
No ano passado, mais de 35 bilhões de horas de conteúdo esportivo foram assistidas no YouTube, marcando um aumento de 45% em relação ao ano anterior. Esse crescimento reflete uma mudança substancial no consumo de esportes, com o streaming começando a desafiar a hegemonia da TV tradicional, aberta ou fechada. Segundo o próprio YouTube, as visualizações em TVs conectadas aumentaram mais de 130% nos últimos três anos, com o tempo de exibição de esportes nesses dispositivos crescendo 30% na comparação anual (dados obtidos via matéria publicada na Folha de S. Paulo).
No Brasil, o YouTube, que não é um parceiro oficial do COI, está transmitindo as Olimpíadas através da CazéTV, o que facilita as pessoas verem os esportes no celular, tablet, computador, enquanto trabalham ou estando fora de casa, fato praticamente impossível de acontecer quando os esportes são transmitidos exclusivamente via TV; somente durante as cerimônia de abertura a CazéTV registrou 500 mil visualizações ao vivo, enquanto a Globo alcançou 36,4 milhões de pessoas.
Também focado nesse evento, o projeto “Paris é Brasa”, uma colaboração entre a Play9, o Comitê Olímpico do Brasil e o YouTube, tem sido um sucesso, ultrapassando 500 milhões de visualizações nas redes sociais em apenas uma semana, com influenciadores e jornalistas renomados como Fátima Bernardes e Tino Marcos (dados divulgados em matéria do Estadão).
Para os espectadores mais tradicionais e que preferem uma abordagem com maior seriedade quando o assunto é esporte, a ascensão do streaming pode ser um problema por duas razões principais: a dificuldade para achar determinadas transmissões, já que existem diversas opções de canais, e devido a linguagem usada, já que a maioria dos apresentadores e comentaristas não são jornalistas já reconhecidos no meio do esporte e tendem a usar uma linguagem mais informal, o que pode ser bom e ruim – depende do que o espectador tem como expectativa de consumo de conteúdo.
Entretanto, para os mais jovens e até mesmo para as ligas e instituições esportivas, o streaming é um facilitador. As ligas estão adaptando suas estratégias para alcançar públicos fora de seus mercados tradicionais e o aumento no custo dos direitos esportivos e a popularidade de atletas individuais são tendências notáveis, exemplificadas pelo contrato de Lionel Messi com a MLS e a Apple, que inclui uma parte das receitas de streaming. Isso tudo sem contar com o interesse de marcas anunciantes, que veem cada uma dessas plataformas como um canal direto de comunicação com o seu público-alvo.
Mesmo ainda representando a principal fonte de receita para várias empresas de mídia, a TV a cabo aos poucos está sendo ameaçada pelo streaming. Redes como a ESPN e SporTV (Grupo Globo), já recorreram a este formato mais digital (Disney+ e Globoplay) para atrair mais o público e não perder espaço. Até mesmo empresas que mostravam certa resistência à transmissão de esportes, como a Netflix, estão investindo em transmissões e documentários esportivos como “Drive to Survive” da F1 e a transmissão da rodada de NFL durante o Natal.
Com base na transformação da cobertura esportiva que estamos testemunhando, é evidente que os Jogos Olímpicos de Paris 2024 são palco para mudanças notórias no mundo da mídia. A ascensão do streaming não apenas está desafiando a TV tradicional, mas também está reformulando o modo como consumimos e interagimos com o esporte. Embora a TV ainda desempenhe um papel crucial, o crescimento explosivo do streaming indica um futuro onde a flexibilidade e a personalização serão cada vez mais valorizadas.