Tour de France e a disputa entre empresa privada organizadora e a organização que regulamenta o ciclismo.
Enquanto nas constantes discussões sobre a formação de liga do futebol brasileiro, NBA, NFL, WSL são siglas de empresas privadas geralmente citadas como modelo de sucesso em suas modalidades, no antigo continente acontece há muitos anos uma queda de braço entre outras duas siglas poderosas, mas pouco comentadas por aqui: UCI – União Ciclística Internacional e ASO – Amaury Sport Organization.
A relação entre a UCI e a ASO é complexa e multifacetada, refletindo disputas de poder, controle e dinheiro dentro do ciclismo profissional, tensões inerentes entre um órgão regulador que busca padronizar e governar o esporte e uma entidade privada organizadora que deseja maximizar o sucesso e a independência de suas competições. A ASO, é responsável pelo Tour de France e outras 28 competições de peso do ciclismo. Os diferentes interesses envolvem, regras, calendário, sistema de licenciamento, que poderiam afetar a organização, tradição e até lucratividade das provas. Porém, os maiores atritos estão na distribuição de receitas vindas de direitos de transmissão e patrocínios. A ASO, sendo uma das organizadoras de eventos mais lucrativas, deseja manter uma maior fatia das receitas, enquanto a UCI busca uma distribuição mais equitativa entre todas as partes interessadas no esporte.
Ao longo dos anos, houve vários conflitos públicos e negociações tensas entre a UCI e a ASO. Por exemplo, em 2008, a ASO retirou suas corridas do calendário UCI, resultando em um período de grande tensão no ciclismo profissional. Mas houve também momentos de cooperação e acordos entre as duas entidades. Em 2017, a UCI e a ASO chegaram a um acordo para assegurar a participação das melhores equipes nas principais corridas, tentando harmonizar interesses e promover o crescimento do esporte. Amaury Sport Organisation (ASO) tem uma importância significativa para o ciclismo mundial, tanto no âmbito da valorização e crescimento da modalidade quanto nos benefícios trazidos para a União Ciclística Internacional (UCI).
O Tour de France é a corrida de ciclismo mais famosa e prestigiada do mundo. Sua visibilidade global e histórica fazem dela um dos eventos esportivos mais importantes do calendário internacional. São mais de 12 milhões de pessoas espalhadas pelas estradas da França e países vizinhos para verem os ciclistas passarem, que se somam a mais de 3.5 bilhões de telespectadores nos 190 países para onde as imagens são distribuídas, sem citar todo o alcance nos demais canais digitais.
Não só com o Tour, a ASO tem a capacidade de atrair grandes patrocinadores e acordos de transmissão televisiva, o que aumenta a visibilidade do ciclismo e gera receitas significativas que ajudam a sustentar o esporte. As provas servem como plataformas para ciclistas de elite e emergentes, ajudando no desenvolvimento de novos talentos no esporte. As 22 equipes que largam no pelotão têm orçamentos que variam de €35mi a €55mi por ano e os atletas mais bem pagos ultrapassam os € 6 milhões anuais. Empresas utilizam a competição como plataforma de comunicação e desenvolvimento de produtos e tecnologias e aproveitam a passagem dos atletas pelas cidades europeias para abrir novas lojas, lançar coleções e produtos. A ASO tem sido inovadora em suas abordagens de marketing e promoção, ajudando a modernizar a imagem do ciclismo e a atrair novas audiência, que elevam o perfil do ciclismo e, consequentemente, o da UCI.
Embora haja disputas sobre a distribuição de receitas, as corridas da ASO geram uma quantidade significativa de dinheiro que, direta ou indiretamente, beneficia o ecossistema do ciclismo, do qual a UCI é parte. O Tour de France é uma empresa lucrativa devido às suas diversas fontes de receita, eficiência na gestão de custos e impacto econômico positivo nas regiões anfitriãs. A corrida continua a ser um dos eventos esportivos mais prestigiosos e financeiramente bem-sucedidos do planeta. Este tipo de disputa entre ligas e associações é comum em todas as modalidades. Embora ambos os tipos de organizações desempenhem papéis importantes no ciclismo, uma organização privada como a ASO se destaca pela agilidade, capacidade de inovação, foco no lucro e eficiência operacional. Por outro lado, a UCI é essencial para a regulação, padronização e desenvolvimento global do esporte. A colaboração entre essas duas entidades pode potencializar os pontos fortes de cada uma e beneficiar o produto ciclismo como um todo.